16/07/2011

reflexo

Dois homens estavam sentados a beira de um abismo. O vento úmido era o único som que ouviam além de suas vozes salpicadas pelo frio das montanhas. O homem mais velho falou enquanto observava o mover preciso das nuvens:
- É repugnante as vezes viver nesse mundo, onde estou cercado por pessoas falsas que me fazem odiá-las a cada dia em que tenho a obrigação de encará-las. 
O homem mais novo digeria suas palavras em silêncio o olhar perdido no infinito e a mente funcionando a todo o vapor; levantou-se de súbito e aprumou os pulmões gritando com todas as suas forças:
-EU ODEIO VOCÊ!!!!!!!!!
Todo o redor, preciso e vivo, colossal e ameaçador pareceu captar a mensagem, e em menos de um segundo o grito foi devolvido num eco tríplico ensurdecedor:
-EU ODEIO VOCÊ! EU ODEIO VOCÊ! EU ODEIO VOCÊ!
Logo fez-se silencio e por fim, o homem mais novo apoiou-lhe as mãos nos ombros e falou:
- Não seria tão repugnante se partisse de você o fato de não encará-las, mas simplesmente olha-las e cumprimentá-las. Somos um reflexo de tudo o que fazemos, a vida nos devolve o que lhe atiramos. O que você recebe do mundo nada mais é do que você tem dado a ele. 
Essas palavras foram como um soco na sua vulnerável realidade. Seu olhar estava tão perdido quanto sua falsa razão que havia batido em retirada. O vento assoprava frio agora, mas o céu se fazia mais azul do que nunca e as nuvens haviam se dissipado. O homem mais velho se levantou e disse:
- Seria mais fácil eu sentir raiva de você nesse momento,  mas não consigo e você sabe me dizer por que?
- Sim - disse o homem mais novo - é porque eu não lhe disse o que você queria ouvir, e sim o que você precisava escutar.
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(Adriana N Amaral)
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